O desafio das eleições municipais: por que não deixar que agendas estaduais ou nacionais dominem em 2024.
- Ismênio Bezerra
- 21 de jul. de 2024
- 7 min de leitura
As eleições municipais de 2024 no Brasil se aproximam, trazendo consigo um debate fundamental: a necessidade de manter o foco local, evitando a estadualização e nacionalização das disputas. Esse princípio não é apenas uma questão de estratégia eleitoral, mas um pilar essencial para a preservação da democracia e da eficácia administrativa. Para compreender plenamente essa questão, é vital examinar as nuances do contexto político atual e as consequências de transformar eleições locais em batalhas de escala estadual ou nacional.

A polarização radical e irracional que vemos hoje, separando famílias, comunidades, cidades, estados, regiões e até mesmo países, não é um fenômeno espontâneo, mas uma estratégia calculada. Esse ambiente de extrema divisão desvia a atenção das questões fundamentais que afetam diretamente a vida dos cidadãos, como saúde, segurança, educação, distribuição de renda, geração de empregos, economia do cuidado e meio ambiente. Ao alimentar conflitos e debates polarizados, muitas vezes promovidos por interesses políticos ou midiáticos, as discussões essenciais para o bem-estar e desenvolvimento dos municípios são deixadas de lado.
Os cidadãos residem nos municípios e é nesses contextos locais que recorrem para atender suas necessidades mais básicas. A polarização, ao focalizar temas distantes e muitas vezes abstratos, impede que as necessidades concretas dos munícipes sejam tratadas com a devida prioridade. Questões como a eficiência dos serviços de saúde, a segurança das comunidades, a qualidade da educação local e as oportunidades de emprego são relegadas a segundo plano. Essa estratégia de polarização impede a construção de um debate produtivo e construtivo em torno das reais demandas dos municípios, dificultando a implementação de políticas públicas eficazes.
Neste contexto, qualquer outro debate que não seja focado nos interesses municipais atrapalha gravemente as chances de desenvolvimento local. As disputas ideológicas extremadas distraem a população e os gestores públicos das soluções práticas e necessárias para os problemas cotidianos. Manter o foco nos temas que realmente importam para os munícipes é crucial para garantir um desenvolvimento sustentável e equitativo das cidades. Ignorar essas prioridades em favor de discussões polarizadas sobre o debate estadual ou mesmo nacional compromete não apenas a governança local, mas também o futuro das comunidades que dependem dessas políticas para seu progresso e bem-estar.
É lógico que a política nacional e a política estadual influenciam as gestões municipais, uma vez que decisões tomadas em níveis superiores de governo afetam diretamente os recursos e as diretrizes que chegam aos municípios. Políticas públicas nacionais e estaduais determinam, por exemplo, o repasse de verbas, a implementação de programas de saúde e educação, e a infraestrutura que conecta as cidades. No entanto, apesar dessa influência inegável, é fundamental que as eleições municipais mantenham seu foco local, pois são os gestores municipais que irão lidar diretamente com as especificidades e necessidades cotidianas dos seus habitantes.
Os gestores nacionais e estaduais não são responsáveis por gerir e cuidar diretamente dos municípios, o que torna inadequado pautar as eleições municipais com base em agendas e debates que não refletem a realidade local. Os prefeitos e vereadores são os que possuem um entendimento mais profundo dos problemas e potenciais de suas comunidades, estando em posição de implementar políticas públicas ajustadas às demandas específicas dos cidadãos. Portanto, manter a agenda das eleições municipais centrada nas questões locais é essencial para garantir uma administração eficiente e responsiva, que possa promover o desenvolvimento e o bem-estar dos munícipes de maneira eficaz.
Os políticos qualificados, preocupados com os interesses locais de seus eleitores, promovem um debate que tem como síntese a resolução dos problemas municipais. Esses líderes demonstram uma compreensão profunda das necessidades específicas de suas comunidades. Eles se dedicam a ouvir as demandas dos cidadãos, valorizando a participação popular e a transparência em suas ações. Além disso, esses políticos compartilham de racionalidade e civilidade, apresentando suas propostas de maneira respeitosa e construtiva, evitando a polarização e a hostilidade. Em suas campanhas, priorizam a qualidade do debate e buscam sempre o diálogo e o consenso, ao invés de transformar adversários políticos e eleitores em inimigos.
Por outro lado, existem aqueles que se preocupam mais com o populismo e com interesses pessoais, distantes da ética e do espírito republicano. Esses políticos frequentemente utilizam retórica inflamadora e demagógica para atrair votos, explorando temas polêmicos e simplificados que apelam às emoções dos eleitores, mas que raramente resultam em soluções efetivas para os problemas locais. Eles podem priorizar a autopromoção e o ganho pessoal sobre o bem-estar da comunidade, utilizando seus cargos para benefício próprio ao invés de servir ao público. Em suas campanhas, muitas vezes recorrem a ataques pessoais e à criação de divisões, fomentando o ódio e a desconfiança entre diferentes grupos da sociedade. Essa abordagem não só compromete a qualidade do debate político, mas também enfraquece as bases da democracia e impede a construção de um ambiente político saudável e colaborativo, essencial para o desenvolvimento dos municípios.
Vamos explorar a importância de não estadualizar ou nacionalizar essas eleições, ressaltando dez temas que os municípios devem discutir, além de outras pautas que contribuem para o desenvolvimento humano e integral do município.
Educação
A educação é a base para o desenvolvimento de qualquer sociedade. Investimentos em escolas, formação de professores, inclusão digital e políticas para reduzir a evasão escolar são fundamentais. A pandemia destacou a desigualdade educacional e a necessidade de infraestrutura adequada para o ensino remoto e híbrido, em situações específicas, sem nunca abrir mão de aulas e atividades presenciais. Municípios devem focar em melhorar a qualidade do ensino, adaptando-se às novas tecnologias e métodos pedagógicos para garantir que todas as crianças e jovens tenham acesso a uma educação de qualidade.
Saúde
A melhoria do atendimento nos postos de saúde, programas de prevenção de doenças e estratégias para reduzir filas e tempos de espera são prioridades inegáveis. A atenção primária precisa ser reforçada para evitar a sobrecarga dos hospitais. Investir na saúde local significa melhorar a qualidade de vida dos munícipes, garantindo que todos tenham acesso a cuidados médicos adequados e oportunos, prevenindo doenças e promovendo a saúde pública.
Segurança Pública
A violência urbana é um desafio crescente e deve ser enfrentada com políticas de combate à violência, programas de prevenção ao crime e o fortalecimento da guarda municipal. Garantir a segurança dos cidadãos é essencial para o desenvolvimento de um ambiente propício ao bem-estar e à convivência pacífica. A segurança pública, ao ser tratada de forma integrada com outras políticas sociais, pode reduzir significativamente os índices de criminalidade e violência.
Mobilidade Urbana
Investimentos em transporte público, ciclovias e projetos de infraestrutura são necessários para reduzir congestionamentos e melhorar o fluxo de tráfego. A sustentabilidade no transporte também deve ser incentivada, promovendo formas de mobilidade que sejam amigáveis ao meio ambiente e acessíveis a todos. Melhorar a mobilidade urbana contribui para a qualidade de vida dos cidadãos e para o desenvolvimento econômico local.
Habitação
Programas de moradia popular, regularização fundiária e iniciativas para reduzir o déficit habitacional são cruciais. O acesso a uma moradia digna é um direito fundamental que precisa ser garantido. Municípios devem investir em políticas habitacionais que atendam às necessidades da população, proporcionando segurança e estabilidade para as famílias.
Meio Ambiente
Políticas de sustentabilidade, gestão de resíduos e ações para combater a poluição e proteger áreas verdes são essenciais para a saúde ambiental das cidades. A integração entre o homem e o meio ambiente deve ser pensada para prevenir tragédias como a ocorrida no Rio Grande do Sul. Municípios devem desenvolver projetos que promovam a conservação ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais, garantindo um futuro sustentável para as próximas gerações.
Desenvolvimento Econômico
Incentivos para pequenas e médias empresas, programas de geração de emprego e renda e atração de investimentos são vitais para o crescimento econômico local. A diversificação econômica pode tornar as cidades mais resilientes a crises. O desenvolvimento econômico deve ser sustentável e inclusivo, beneficiando toda a comunidade e promovendo a justiça social.
Inclusão Social
Políticas para combater a desigualdade, programas de assistência social e iniciativas voltadas para grupos vulneráveis são indispensáveis. A inclusão social fortalece a coesão comunitária e promove justiça social. Municípios devem trabalhar para garantir que todos os cidadãos tenham acesso às oportunidades e serviços essenciais, reduzindo as disparidades sociais e econômicas.
Cultura e Lazer
Investimento em espaços culturais, programas de incentivo à cultura local e criação de áreas de lazer são importantes para a qualidade de vida e o bem-estar da população. A cultura e o lazer contribuem para a formação de uma identidade comunitária e para o desenvolvimento pessoal dos cidadãos.
Tecnologia e Inovação
Incentivo à inovação tecnológica, criação de parques tecnológicos e políticas para transformar o município em uma cidade inteligente são passos fundamentais para o futuro. A tecnologia pode facilitar a gestão pública e melhorar a vida dos cidadãos, tornando as cidades mais eficientes e conectadas.

Essas eleições municipais são uma oportunidade para que cada município foque em suas próprias necessidades e desenvolva soluções específicas para seus desafios. Manter o debate centrado nas questões locais é essencial para que as políticas públicas sejam eficazes e respondam diretamente às demandas da população. Além disso, é necessário evoluir em outras pautas que tenham foco no desenvolvimento do ser humano e, consequentemente, no desenvolvimento integral do município com justiça social. Esse desenvolvimento deve seguir a lógica do princípio da equidade, da eficiência, da transparência e do republicanismo, garantindo que todos os cidadãos tenham acesso a oportunidades e serviços de qualidade, promovendo uma sociedade mais justa e desenvolvida.
À medida que nos aproximamos das eleições de 2024, é essencial que eleitores, políticos e a sociedade civil organizada se unam para construir um processo político maduro e responsável. Neste momento crucial, devemos nos afastar das armadilhas das fake news, do populismo e das questões que não contribuem para a melhoria efetiva da qualidade de vida dos cidadãos.
É hora de focar em soluções concretas e viáveis, que fortaleçam a coesão social e tragam resultados palpáveis para todos. O caminho para uma política verdadeiramente construtiva passa pela valorização da transparência, pela promoção de um diálogo respeitoso e pela busca incessante por soluções que atendam às necessidades reais da população. Somente assim poderemos construir um futuro mais justo e próspero para todos os cidadãos. É o momento de todos nós, como sociedade, assumirmos a responsabilidade de fazer a diferença e contribuir para um processo eleitoral que, de fato, promova o bem-estar comum e a justiça social.
Ismênio Bezerra
Manter o foco no debate local nas eleições municipais de 2024 é essencial para garantir que as soluções se adaptem às necessidades específicas de cada comunidade, promovendo um desenvolvimento eficaz e direcionado ao bem-estar dos munícipes.
Desviar a atenção para agendas estaduais ou nacionais nas eleições municipais compromete a capacidade dos candidatos de abordar e resolver problemas locais, enfraquecendo a eficácia das políticas públicas e prejudicando o progresso das cidades.
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A vida acontece no município e por isso é relevante pensar na gestão municipal. Entretanto, o Brasil é um país federalista, de modo que não há como ignorar os contextos estaduais e nacional.
Especialmente na área da saúde, onde atuo, o SUS prevê a participação dos três níveis (municipal, estadual e federal), inclusive no financiamento.
Então, na minha opinião, precisamos examinar detalhamente os candidatos e candidatas na eleição municipal, com análise de contexto em todos os níveis de gestão.