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Carta aberta à Juventude Mariana Vicentina do Brasil e ao Presidente Nacional Suerllen Marinho

Prezado Suerllen Marinho e toda JMV,

É com grande alegria e profundo respeito que me dirijo a você e a toda a Juventude Mariana Vicentina (JMV) Brasil neste momento de renovação e esperança. Em nome de todos aqueles que, ao longo dos anos, contribuíram para a construção e fortalecimento desta nobre instituição, gostaria de parabenizá-lo pela sua eleição como Presidente Nacional da JMV.


Seu compromisso com a causa da juventude e sua trajetória dentro do movimento são verdadeiramente inspiradores. Estamos confiantes de que, sob sua liderança, a JMV voltará a se destacar como uma força transformadora e mobilizadora, capaz de impactar positivamente a vida de jovens em todo o Brasil.

Neste novo ciclo, gostaria de apresentar alguns desafios que considero essenciais para o fortalecimento e a expansão da JMV, visando enfrentar as crises contemporâneas e promover um impacto ainda mais significativo. Antes disso, para quem não me conhece, gostaria de me apresentar.


Sou Ismênio Bezerra, originário da JMV Dom Marcolino Dantas em Natal/RN, onde iniciei minha trajetória como membro e depois coordenador do grupo mirim do Movimento de Marial Vicentino. Posteriormente, coordenei o grupo de adolescentes, já com a mudança para JMV, e, mais tarde, assumi a coordenação do grupo de jovens. Também ocupei os cargos de Secretário do Regional Natal, Assessor do Regional e Assessor Provincial da Província do Recife, além de ter sido jovem consagrado.


Desde então, dedico-me ao estudo e militância na área de juventude. Esse compromisso se refletiu em minha atuação em diversos cargos públicos. No Governo do Estado do Rio Grande do Norte e na Presidência da República, ajudei a criar e atuei na Secretaria Nacional de Juventude e no Conselho Nacional de Juventude. Como Secretário de Juventude do Governo do Estado do Ceará por 8 anos, também presidi o Fórum Nacional de Secretários de Juventude. Durante esse período, representei o Brasil em diálogos do Mercosul e fui convidado especial para a audiência com o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude no Brasil, em 2013.


Além disso, fui Presidente do Instituto CUCA, a maior rede de políticas públicas de juventude do Brasil, gestor técnico na Câmara dos Deputados e Assessor Especial do Ministério da Previdência Social em 2023. Atualmente, em 2024, ocupo o cargo de Secretário da Criança e Juventude de Pernambuco.

Feita a apresentação, que serve para balizar as reflexões que trago agora.


Quem é Jesus?


“Jesus é mais que uma simples e pura teoria

Jesus é mais do que ler a Bíblia

Pois tudo que foi nela escrito

Se resume em amor, vamos praticá-lo

Jesus meus amigos é verbo, não substantivo”

 

Trecho da música Jesus É Verbo, Não Substantivo de

Ricardo Arjona. cantado por Amelinha.

 

Jesus, em sua essência, é uma figura que transcende os limites do tempo e do espaço, marcando uma presença constante na vida daqueles que mais necessitam. Sua trajetória, profundamente enraizada em uma mensagem de amor e solidariedade, revela um compromisso inabalável com os marginalizados, os pobres e os excluídos.

 

Desde seu nascimento, Jesus se fez próximo dos humildes e dos perseguidos, vivendo entre aqueles que o Estado Romano e a estrutura religiosa da época desprezavam e marginalizavam. Ele não se afastou dos pecadores, nem dos injustamente tratados. Em vez disso, esteve ao lado deles, oferecendo uma presença reconfortante e uma voz de esperança. Sua vida foi uma constante afirmação de que o amor de Deus não conhece barreiras, e que a dignidade humana não é definida pelo status social ou pela aceitação institucional.

 

O que torna Jesus tão relevante hoje é essa continuidade de sua missão. Ele não está distante ou inacessível; ele permanece ao lado dos perseguidos e dos injustiçados. Em tempos modernos, onde o poder e a influência muitas vezes perpetuam desigualdades e exclusões, a mensagem de Jesus continua sendo um farol para aqueles que lutam contra a opressão e a marginalização. Sua presença ainda é sentida nos movimentos sociais que buscam justiça, na solidariedade com os pobres e na resistência contra as injustiças.

 

Jesus é uma constante na vida dos marginalizados, aqueles que enfrentam discriminação e dificuldade. Ele é a voz que clama por justiça e compaixão, não apenas em tempos passados, mas também na realidade presente. Sua missão, que começou em um contexto de opressão e rejeição, continua a inspirar ações de amor e justiça, refletindo a verdade de que Ele sempre estará ao lado dos que mais necessitam de apoio e de esperança.


Juventude Mariana Vicentina: o desafio de ser voz dos silenciados


Em um mundo onde as vozes dos marginalizados frequentemente se perdem no grito ensurdecedor da indiferença, é imperativo que voltemos nosso olhar para aqueles que, em diferentes épocas, ousaram desafiar o status quo e lutar pelos mais necessitados. São Vicente de Paulo e Dom Helder Câmara são exemplos inspiradores, cujas vidas e legados nos convocam a uma ação ousada e transformadora.


São Vicente de Paulo, com sua incansável dedicação aos pobres e desamparados, desafiou as convenções de seu tempo. Ele não se limitou a confortar os aflitos; ele lutou ativamente contra a opressão e a injustiça. Sua vida nos ensina que a verdadeira compaixão não é passiva, mas sim um engajamento profundo e corajoso na luta contra as desigualdades. Em cada gesto de caridade, ele nos mostra que a nossa fé deve ser uma força ativa contra as injustiças sociais.


Dom Helder Câmara, por sua vez, encarnou o espírito de resistência e coragem diante das injustiças e do autoritarismo. Sua voz ressoava não apenas nas paredes das igrejas, mas nos corredores dos centros de poder, desafiando os abusos e clamando pelos direitos dos oprimidos. Ele nos inspira a não nos conformarmos com a passividade, mas a buscar a justiça com uma determinação inabalável.


A Juventude Mariana Vicentina, ao se inspirar em tais exemplos, deve ser mais do que uma força de apoio – deve ser uma força de transformação. Somos chamados a confrontar todas as formas de preconceito, discriminação e injustiça. A mensagem de São Vicente e Dom Helder Câmara é clara: a nossa fé deve se traduzir em ações concretas em favor dos pobres, marginalizados e perseguidos.


Não podemos mais fechar os olhos para a opressão que nos cerca. A nossa missão é ser a voz dos silenciados, lutar contra todas as formas de preconceito e construir um mundo onde todos, sem exceção, sejam tratados com dignidade e respeito. São Vicente de Paulo e Dom Helder Câmara não apenas nos mostram o caminho; eles nos desafiam a segui-lo com coragem e determinação.


A escolha é nossa: permanecer na zona de conforto ou arregaçar as mangas e fazer a diferença. Que a memória desses grandes exemplos nos inspire a sermos agentes de mudança e a trabalhar incansavelmente pela justiça e pela dignidade de todos.


Juventude no Brasil


Os jovens brasileiros entre 15 e 29 anos enfrentam uma série de desafios significativos que moldam suas vidas e perspectivas. Entre as principais dificuldades, destacam-se:


A falta de oportunidades de trabalho e o elevado índice de subemprego são preocupações constantes. Muitos jovens têm dificuldade em encontrar empregos estáveis e bem remunerados, o que afeta sua independência financeira e desenvolvimento profissional.


Apesar dos avanços na educação, a desigualdade persiste. A dificuldade em acessar uma educação de qualidade e programas de capacitação pode limitar as oportunidades de emprego e crescimento pessoal.


A violência urbana e a insegurança são problemas graves que impactam diretamente a vida dos jovens. Expostos a situações de risco, muitos veem comprometido seu bem-estar e futuro.


A pressão social, acadêmica e econômica tem contribuído para um aumento significativo de problemas de saúde mental entre os jovens. Ansiedade, depressão e estresse são questões prevalentes que necessitam de atenção e suporte adequado.


A disparidade econômica e social continua a ser um obstáculo significativo. As diferenças no acesso a recursos e oportunidades criam barreiras adicionais, dificultando a realização dos sonhos e a ascensão social.


Além desses desafios, a influência da indústria da fé e da teologia da prosperidade agrava ainda mais a situação. Muitas vezes, essas correntes religiosas promovem uma visão distorcida do cristianismo, pregando que o sucesso financeiro e a prosperidade são sinais de fé e merecimento. Essa visão não só ignora a realidade econômica e social enfrentada pelos jovens, como também intensifica a pressão sobre eles para alcançar um padrão inatingível de sucesso.


A teologia da prosperidade, ao sugerir que a fé pode ser medida pela riqueza material, desvia a atenção das verdadeiras necessidades e problemas enfrentados pelos jovens. Ela cria uma falsa sensação de culpa e inadequação, tirando a liberdade de pensamento crítico e a capacidade de questionar as estruturas que perpetuam a desigualdade. Essa abordagem vai contra o espírito dos ensinamentos de Jesus Cristo, que enfatizavam a solidariedade, a compaixão e a justiça social, e não a acumulação de bens como prova de fé.


Enfrentar esses desafios exige uma abordagem integrada, que considere tanto a realidade social e econômica quanto as influências ideológicas que moldam a visão de mundo dos jovens. Políticas eficazes e um suporte abrangente são essenciais para promover um ambiente onde todos possam ter oportunidades de desenvolvimento e bem-estar. Neste sentido, apresento alguns desafios, que humildemente considero fundamentais para estar contido no planejamento da JMV nesse novo clico:


·  Fortalecimento da identidade e da missão: Em um mundo em constante mudança, é fundamental que a JMV continue a fortalecer sua identidade e missão, alinhando-se às necessidades e expectativas dos jovens de hoje. Manter viva a essência do Movimento enquanto se adapta às novas realidades é um equilíbrio crucial.


·  Ampliação da inclusão e diversidade: Promover a inclusão e a diversidade dentro da JMV é essencial para garantir que todos os jovens se sintam representados e acolhidos. Isso inclui uma atenção especial às diferentes realidades socioeconômicas, culturais e regionais dos nossos membros.


·  Fortalecimento das redes de colaboração: Estimular a colaboração entre as diversas instâncias da JMV, bem como com outras organizações e movimentos, como PJMP, PJ, PJR (dentre outras com o papel missionário) pode amplificar nosso alcance e eficácia. A criação de parcerias estratégicas e o compartilhamento de boas práticas são passos importantes para avançarmos juntos.


·  Inovação nas estratégias de engajamento: Utilizar novas tecnologias e estratégias de engajamento pode ajudar a conectar mais efetivamente com os jovens e a tornar nossas atividades mais atrativas e relevantes. A inovação deve caminhar lado a lado com a tradição, garantindo que nossa mensagem e missão sejam compreendidas e valorizadas.


·  Fortalecimento do compromisso social: Reforçar o papel da JMV como agente de transformação social, através de projetos e iniciativas que promovam a justiça social, a solidariedade e o bem-estar das comunidades em que atuamos. Neste sentido, a opção preferencial pelos pobres, como aprovada no Concílio de Puebla, deve ser uma diretriz fundamental. Esse princípio nos lembra que nossa missão deve sempre priorizar os mais necessitados e marginalizados, buscando transformar a realidade social e promover uma sociedade mais justa e igualitária.


·  Educação e formação continuada: Investir em programas de formação contínua para líderes e membros da JMV é fundamental para garantir que todos estejam preparados para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que surgem.


Fé, coerência e política.


Em tempos em que as divisões ideológicas parecem assumir uma força quase intransponível, é essencial que procuremos um entendimento que transcenda o superficial e combata a polarização que tem dominado o cenário nacional. O desafio é profundo e, em muitos casos, as instituições religiosas têm sido arrastadas para essa corrente, tornando-se palcos de debates e interesses que muitas vezes desvirtuam a sua verdadeira missão.


A questão que se impõe não é simplesmente sobre o papel das igrejas na política, mas sobre como elas podem contribuir para uma desintoxicação do ambiente social e político. As igrejas, com sua mensagem de amor e compaixão, não devem se tornar instrumentos de manipulação ou de fortalecimento de agendas extremistas. Não é a contaminação que deve ser o foco, mas de maneira como podemos promover a pureza do discurso e a verdadeira essência dos valores cristãos.


Ao invés de permitir que discursos extremistas utilizem a palavra de Deus para propagar desamor, preconceito e fundamentalismo, é fundamental que as lideranças religiosas se posicionem contra essas distorções. A palavra de Deus deve ser uma fonte de união e entendimento, não de divisão e ódio. As igrejas têm a responsabilidade de manter-se fiel aos princípios de amor e respeito, desafiando qualquer tentativa de usá-las como curral eleitoral ou como plataforma para agendas que não refletem a verdadeira mensagem do evangelho.


Neste contexto, a JMV principalmente, e outras organizações semelhantes, têm um papel crucial. Elas podem ser agentes de transformação, ajudando a limpar o ambiente de influências perniciosas e promovendo um discurso de amor e inclusão. É essencial que essas organizações se empenhem em refutar qualquer forma de extremismo e se dediquem a construir pontes em vez de muros.


Jovens, despertai para a verdadeira fé


Vivemos em um mundo onde as ofertas, doações e dízimos muitas vezes são confundidos com o verdadeiro relacionamento com Deus. Mas é crucial que entendamos: Deus não está à venda. Ele não espera de nós meros atos de doação ou contribuições financeiras; Ele anseia por algo muito mais profundo e transformador.


A relação com Deus não pode ser medida por quanto contribuímos ou pelo valor de nossas ofertas. O que Deus realmente espera é uma ação permanente de libertação e transformação. Ele nos chama a uma vida de compromisso genuíno, onde a formação de uma consciência crítica e a liberdade para pensar são fundamentais. É uma fé que vai além dos rituais e das aparências, uma fé que se traduz em ações concretas e na construção de um mundo mais justo e equitativo.


Inspirados por exemplos como o de Irmã Dulce, que dedicou sua vida ao serviço dos mais pobres e necessitados, somos convidados a seguir um caminho de segurança e compromisso verdadeiro com o reino de Deus, que começa aqui na terra. O convite de Cristo é um chamado à rebeldia contra estruturas opressivas, contra aqueles que se colocam como detentores absolutos da verdade e que pretendem manipular a fé para interesses próprios.


Não podemos permitir que ninguém tutele nossa fé ou se autodenomine o único guardião da verdade. A Virgem da Medalha Milagrosa nos desafia a adotar atitudes altruístas e ser agentes de mudança em uma sociedade onde a violência, as drogas e outras forças destrutivas estão levando jovens e comunidades a uma espiral de manipulação.


O verdadeiro evangelho de Jesus Cristo é um evangelho de ação, de desafio às injustiças e de promoção da dignidade humana. Somos chamados a ser rebeldes no sentido mais puro, a desafiar as estruturas que perpetuam a desigualdade e a promover a transformação de nossas comunidades e de nós mesmos.


É hora de nos mobilizarmos por causas justas, de defender o evangelho vivo que nos convoca a uma vida de serviço, de amor verdadeiro e de justiça. Jovens, não deixem que a superficialidade e as manipulações interfiram em sua fé. Lutem por um mundo onde a fé não seja uma mercadoria, mas uma força libertadora que transforma vidas e constrói um reino de paz e justiça.


JMV, despertai para a verdadeira essência da fé e deixai que o amor e a justiça de Cristo guiem suas ações.

 

Sempre acreditei na força e na capacidade única da juventude para se reinventar sem perder seus princípios fundamentais. Esta nova geração que agora assume a Coordenação Nacional da JMV tem diante de si uma oportunidade e uma responsabilidade extraordinárias. É fundamental que vocês avancem com confiança e sem se deixarem tutelar por ninguém, pois a verdadeira transformação vem da autonomia e do compromisso genuíno com a mudança.

 

O apoio das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo e dos Padres continua a ser um recurso inestimável, mas suas missões estão bem definidas e complementares. Agora é o momento de vocês, jovens desta geração, tomarem as decisões e se dedicarem à transformação do presente e à construção de um futuro mais justo e iluminado.

 

Não desejo sorte, pois a sorte é mero acaso. O que desejo é algo muito mais profundo: desejo a vocês força inabalável, fé firme, planejamento cuidadoso e, acima de tudo, coragem audaciosa para desbravar novos caminhos. É justamente no caminho que nos encontramos e, por tantas vezes, nos reencontramos.

 

Um grande abraço a todos.


Ismênio Bezerra

 

Seja a revolução que o mundo precisa: desafie o status quo, lute por justiça e transforme o impossível em realidade com coragem e propósito.


Obrigado, Jesus, por nos mostrar que a verdadeira rebeldia está em amar o próximo sem condições, desafiando todas as barreiras e preconceitos que nos separam.

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