Com quantas mulheres se faz um país?
- Ismênio Bezerra
- 8 de mar. de 2023
- 9 min de leitura
Uma entrevista com mulheres fortes, influentes e inspiradoras.
Hoje estamos aqui para celebrar o Dia Internacional da Mulher e homenagear as muitas conquistas e lutas que as mulheres enfrentam diariamente. Para esta ocasião especial, convidamos algumas mulheres inspiradoras que atuam em diferentes áreas da sociedade para falar sobre suas experiências e perspectivas em relação a esta data tão significativa. Juntas, apresentam opiniões desde a igualdade de gênero até a representação política e o empoderamento econômico.
Foram feitas nove perguntas iguais a cada uma delas.
Como você se define? Quem é você por você?

Meu nome é Ana Cristina Lima e Silva, nascida, criada e residente em Fortaleza (CE). Sou delegada de polícia civil, professora universitária e de pós-graduações, especialista duas vezes e atualmente cursando mestrado na Universidade Federal do Ceará, onde gosto de lecionar, escrever, dialogar e aprender. Admito que sou nordestina arretada com muito orgulho e desde sempre apelidada carinhosamente de Tininha.

Tatiana Pires 45 anos. Moro em Natal RN. A minha militância vem dos grupos de jovens do bairro, movimento estudantil, e de mulheres com recorte na igualdade racial. Sou Bacharel em Ciências Contábeis e Administradora. Construí uma startup que visa a conectividade entre os três, onde ambos poderão contribuir um com o outro através de Recursos que fortaleçam projetos, para que cresçamos, fazendo acontecer sonhos sociais e econômicos. O meu sonho é fortalecer mulheres que são poderosas e precisam de um empurrão para colocar na prática os seus projetos.

Ana Paula, apesar de carioca, moro em Niterói/RJ desde a adolescência. Sou pesquisadora na área de juventudes e educação, jornalista, educomunicadora, produtora cultural, doutoranda em educação e estou professora de Comunicação Social. Sou focada nos meus objetivos e metas tanto profissionais como subjetivos. "Bato o pé" por aquilo que acredito - e isso é interpretado por algumas pessoas como chatice ou arrogância, mas sou apenas firme, determinada e posicionada. Aprendi com a experiência reconhecer quando erro. Sou militante pelos direitos das juventudes e da comunicação. Meu sonho é ter uma vida de bem-estar social, que é um direito, para que eu possa estar plena, saudável e contribuir para que demais pessoas também possam ter bem-estar social.

Juliana Nicoli Nardelli. Determinada - Mulher com características de menina mas que ao longo dos anos amadureceu e cresceu. Sou de muitas atividades, enfermeira, chef de cozinha, administradora. Já dei aulas, já vendi roupas, é fiz maquiagens em salões. Sempre busquei mais e mais de uma vida que pode te dar o que quiser desde que busque e pratique.
Quais são as principais dificuldades que você enfrentou ou ainda enfrenta por ser mulher?
Ana Cristina Lima e Silva: Mesmo em 2023, em alguns setores, mulheres precisam além de se capacitar tanto ou mais que homens, provarem-se capacitadas plenamente a desenvolver a atividade escolhida, deixando de lado quaisquer julgamentos alheios em nome do seu objetivo.
Tatiana Pires: Moro em uma cidade provinciana em que a capitanias hereditárias e o status social é o seu valor. Ser Mulher, negra e periférica é o gargalo social para as pessoas que falei. A não ser que você fique subserviente a eles, e tá tudo beleza. Na política, dentro dos partidos políticos, coletivos e tantos outros, se você não se enquadrar você é isolada ou expurgada, seja direita ou esquerda. Então, as mulheres são minorias e frente de organizações, mas não podemos recuar e nem desistir.
Ana Paula: Sendo mulher, preta e de classe popular são muitos os desafios diários. Por ser mulher com todas essas características descritas, tenho que atuar em lugares diversos para ter uma renda razoável. Tenho que muitas vezes me posicionar firmemente para ser escutada, respeitada e não ser engolida. Querem de nós a conformação e a subalternidade.
Juliana Nicoli: Acho que depende de como você se vê diante dos desafios da vida. Na cozinha ser mulher é motivo de olhares tortos e até chacotas, é necessário provar, reprovar e sempre contextualizar sua posição e quem você acima de tudo. Ser mulher é ser vulnerável, é ser forte, é carregar dores e sentimentos misturados pelas escolhas tomadas ao longo do tempo. Eu me orgulho de quem me tornei. Mas mais ainda de quem vou me tornar.
Como você enxerga a luta pelos direitos das mulheres nos dias atuais?
Ana Cristina Lima e Silva: Em processo de desenvolvimento, ainda trabalhando em aspectos educativos para moldar uma cultura em nome do respeito a todos.
Tatiana Pires: Tudo é gradual. Hoje, continuam as mesmas dificuldades mas, com conjunturas diferentes. As prisões mentais e sociais vão muito além do que ter dinheiro, se vestir e criar filhos. A cada coisa que se conquista, em todas as vertentes, a sociedade também muda. Acredito que estamos muito longe do que queremos, do que precisamos. Mas, não devemos desistir e sim, acreditar.
Ana Paula: Temos ótimos quadros atuais de mulheres e movimentos incríveis que continuam a luta das nossas antecessoras. São causas diversas e legítimas. Mulheres jovens encabeçando novas e velhas lutas. Mas para avançarmos precisamos formar novos quadros, seja disputando nas escolas, nas periferias, nas igrejas, etc., e enfrentar os debates urgentes como igualdade de renda, aborto, leis severas contra o feminicídio, garantia de paridade para que mulheres, principalmente mulheres negras, indígenas, quilombolas, sejam eleitas em cargos políticos e públicos. São lutas atuais e históricas e que com o país abertamente mais conservador, coloca a vida das mulheres em risco. Creio que essa é uma luta a ser enfrentada pelos movimentos sociais.
Juliana Nicoli: Acho que com o passar do tempo já conquistamos muitos espaços. Ser mulher é batalhar todos os dias. Ainda temos muito a percorrer nesse caminho e abrir espaços em uma sociedade ainda com olhar machista. Não é não. Lugar de mulher é em qualquer lugar. Desde que ela queira! Jamais devemos duvidar de uma mulher. Mais que isso, uma roupa não determina quem somos. Respeito é super importante.
Como você avalia o papel da mulher na política e na tomada de decisões em cargos de liderança?
Ana Cristina Lima e Silva: Isso vem ocorrendo paulatinamente, na medida em que se rompem grilhões de preconceitos outrora enraizados na cultura.
Tatiana Pires: Muito importante. Cada avanço uma conquista. Mas, não devemos esquecer que, ainda são os homens em grupos, pelo bem ou em nome da família e Deus, que estão nas cadeiras que deveriam estar mulheres. Mas onde estão as mulheres? Aqui deixo uma provocação para que todas nós, mulheres, seres políticos, refletirmos sobre quem está nas cadeiras e por quem.
Ana Paula: É necessário termos garantias de equidade para avançar. Não basta estabelecer paridade apenas nas candidaturas, é urgente garantir paridade para que sejam eleitas e tenham cargos públicos, de chefia, liderança. Estou esperançada com as mulheres que estão hoje empossadas no Governo Federal, mas que se não forem dadas a elas orçamento, nada adiantará.
Juliana Nicoli: Acho que temos muito a percorrer nesse caminho. Confesso que na sociedade econômica vejo grande crescimento das mulheres mas na política ainda sinto uma representatividade ínfima.
Quais são as principais mudanças que você espera ver em relação à igualdade de gênero nos próximos anos?
Ana Cristina Lima e Silva: Respeito, igualdade de condições e isonomia.
Tatiana Pires: Que todas as mulheres, 54% do eleitorado brasileiro votem, na maioria, em mulheres. Audacioso? Se eu não imaginar, não será.
Ana Paula: Mudanças em relação à equidade ao trabalho e renda; leis severas para assédios e ameaças à vida das mulheres e casos de feminicídio; garantia para que mulheres sejam eleitas e não apenas componham quadro nas cadeiras; locais no trabalho e nos espaços educacionais para que as mães tenham onde deixar seus filhos e suas vidas não sejam interrompidas.
Juliana Nicoli: Igualdade é algo a ser batalhado diariamente. Sinceramente acho que nem deveríamos esperar algo que deveria naturalmente ser igual. Mas sejamos mulheres, homens ou qualquer que seja a classificação, somos iguais.
Quais são as mulheres que você mais admira e por quê?
Ana Cristina Lima e Silva: Minha mãe e minha irmã. Minha genitora é o exemplo mais próximo que tenho de mulher paciente, trabalhadora e amorosa, que mesmo aposentada ainda empreendeu na iniciativa privada. Minha irmã se formou aqui pela UFC, em medicina, e hoje é referência na Europa na área em que ela atua com maestria. Logo, são dois exemplos de mulheres que causam admiração tanto para os de dentro como os de fora de casa, devido ao seu trabalho e personalidade.
Tatiana Pires: Nossa! Não posso cometer uma injustiça. Tem as vivas ou as que já estão luz, como a minha mãe, por exemplo.
Ana Paula: Minhas primeiras referências são as mulheres da minha família: mãe e madrinha, que vieram do nordeste "tentar uma vida melhor no sudeste". Trabalharam a vida inteira em subempregos, mas garantiram que seus filhos pudessem estudar. Depois minhas referências foram acrescentadas por mulheres da comunidade e dos bairros populares que atuei. Todas mulheres incríveis, que mesmo em meio a dificuldades pessoais faziam e fazem pelo coletivo.
Juliana Nicoli: Com certeza minha mãe e minha avó, mulheres fortes, cada uma em sua época que me ensinaram e mostraram como crescer e batalhar por algo maior e melhor.
Como você acredita que a educação pode ajudar na promoção da igualdade de gênero?
Ana Cristina Lima e Silva: Principalmente quando se entende a história, tomam-se referências de como alguns assuntos são recorrentemente tratados e do seu porquê. Logo, quando se tem educação enfrentam-se tabus, rompem-se preconceitos e se descortinam novos saberes que propiciam o crescimento individual e, consequentemente, coletivo também.
Tatiana Pires: Apenas a educação pode ajudar. Dentro da educação há diversos conhecimentos que se pode trabalhar. Não querem que saibamos planejar, administrar e controlar nossos sonhos, tudo isso para não sabermos usar os recursos necessários que nos faça crescer enquanto seres humanos, bem como seres sociais multiplicadores. Quem está no poder (e não falo os que estão nas cadeiras dos três poderes), não nos querem seres pensantes, independentes e multiplicadoras. Simples assim.
Ana Paula: Trazendo em evidência a história de mulheres na história, principalmente as negras e indígenas que foram apagadas. Também encorajando que meninas e mulheres a conhecerem seus direitos, canais de proteção, profissões antes destinadas aos homens como ciência, tecnologia, inovação, engenharia e matemática, para além das mais comuns.
Juliana Nicoli: Educação é primordial, para qualquer assunto. No caso de promover igualdade e amor ao próximo pode ser o apoio e a forma de conscientizar todos sobre a importância de sermos iguais.
Qual conselho você daria para outras mulheres que querem lutar pelos seus direitos e pela igualdade de gênero?
Ana Cristina Lima e Silva: Respeite a si mesma e respeite as outras, praticando a sororidade. Tome o poder da sua vida para si. Empodere-se!
Tatiana Pires: Passei anos sendo degrau para outras pessoas, para alguém. Fui ganhando fôlego e saindo da prisão dos "grupos políticos". Estes são os que querem lhe dizer o que fazer, seja o lado que for, baseado nos seus interesses. Seja livre mentalmente, politicamente e economicamente e serás você.
Ana Paula: Empatia e sororidade entre todas nós.
Juliana Nicoli: Querem? Acho que todas nós mulheres, em algum momento precisamos lutar por algo que nos envolvam. Sejamos verdadeiras e mais conscientes dos nosso papel na sociedade e que possamos batalhar por nossos espaços e lugares. Com respeito e amor.
Qual é a sua mensagem para o Dia Internacional da Mulher deste ano?
Ana Cristina Lima e Silva: Seja autora da sua própria história.
Tatiana Pires: Sejamos livres mulheres! Não é fácil, mas o primeiro passo é importante.
Ana Paula: Apoie a luta das mulheres. Olhe com mais cuidado para as mulheres pretas. Encoraje e contribua para que outras mulheres tenha qualidade de vida.
Juliana Nicoli: Sejamos, vivamos e que possamos comemorar a beleza de sermos mulheres. Parabéns a todas nós. Lugar de mulher é em qualquer lugar. que possamos nos apoiar e sempre nos darmos as mãos para nos ajudar e nos honrar
Um país justo, igualitário e próspero é aquele que valoriza todas as mulheres, independentemente de sua raça, etnia, religião ou orientação sexual. Para construir um país assim, é fundamental reconhecer a importância do papel das mulheres em todos os aspectos da sociedade e garantir que elas tenham voz ativa e igualdade de oportunidades.
Infelizmente, ainda há muitas barreiras que impedem as mulheres de alcançar todo o seu potencial. Essas barreiras podem incluir a falta de acesso à educação, a discriminação no local de trabalho, a violência de gênero e a falta de representação política. Isso é inaceitável e precisa mudar.
Para construir um país com todas as mulheres e nenhuma a menos, é preciso que todas as pessoas se unam para combater a discriminação e a desigualdade de gênero. Isso envolve apoiar políticas públicas que promovam a igualdade de gênero, incentivar a participação política das mulheres e lutar por uma cultura mais inclusiva e respeitosa.
Também é importante destacar que todas as mulheres têm um papel fundamental a desempenhar na construção de um país mais justo e igualitário. Isso significa que as mulheres devem ser encorajadas a buscar seus sonhos e objetivos, seja na academia, no mercado de trabalho, na política ou em qualquer outra área de atuação. Cada mulher é única e tem muito a contribuir para a sociedade, e é por isso que nenhuma mulher deve ser deixada para trás.
Em resumo, um país se constrói com todas as mulheres e nenhuma a menos. Cada mulher tem o direito de ser valorizada, respeitada e ter suas necessidades e perspectivas levadas em consideração. Somente quando todas as mulheres estiverem empoderadas e livres para expressar todo o seu potencial, seremos capazes de construir uma sociedade verdadeiramente justa e igualitária.
Gostaríamos de agradecer a todas as mulheres inspiradoras que participaram desta entrevista: Ana Cristina Lima e Silva, Tatiana Pires, Ana Paula e Juliana Nicoli que compartilharam suas perspectivas valiosas sobre o Dia Internacional da Mulher. Suas histórias e experiências são uma prova do quanto as mulheres são fortes, resilientes e capazes de realizar grandes coisas. Esperamos que esta conversa tenha inspirado outras mulheres a se levantarem e lutarem por seus direitos e igualdade, e que todos possamos continuar trabalhando para alcançar um mundo mais justo e igualitário para todas as mulheres. Obrigada novamente a cada uma das entrevistadas por tudo o que vocês fazem em suas áreas para empoderar outras mulheres.
Ismênio Bezerra
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebremos todas as conquistas das mulheres até hoje, honremos suas lutas contínuas pela igualdade e continuemos a nos unir para um futuro mais justo e inclusivo para todas as mulheres
O Dia da Mulher deve ser celebrado por todos, inclusive pelos homens, pois não há uma sociedade justa sem a vivência plena da igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres.
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